Entenda as variantes que compõem a inflação médica e por que afirmar que os reajustes de planos de saúde são maiores que a inflação é um equívoco
Há alguns dias, assisti ao vídeo de um dos nossos senadores da república comentando a aprovação do Projeto de Lei nº 1542/2020 que, entre outras questões, suspende o reajuste dos planos de saúde por 120 dias. O que me chamou atenção foi a afirmação dele de que “o segmento de planos de saúde tem, historicamente, aplicado percentuais de reajustes muito maiores que os percentuais inflacionários” e isso me motivou a escrever esse artigo sobre inflação médica e a Variação do Custo Médico Hospitalar – VCMH.
Embora eu não concorde com a proposta do senado, não é esse o foco da informação que pretendo abordar nesse texto. O que quero destacar é que essa é mais uma afirmação equivocada sobre a inflação no setor da saúde – como tantas outras que vemos e ouvimos –, em que os reajustes praticados pelas operadoras de planos de saúde são comparados aos indicadores gerais de inflação.
O que compõe a inflação médica
Esse equívoco ocorre porque quem não está profundamente inserido em nosso mercado não sabe que a inflação médica é composta por dois fatores:
Exemplo: um exame que hoje custa R$ 100 e é realizado, em média, 10 vezes ao ano por pessoa, poderia custar R$ 105 no próximo ano (variação de 5% no preço) e poderia passar a ser realizado 11 vezes no próximo ano (variação de 10% na demanda). Então, se a despesa anual por pessoa com esse exame era de R$ 1.000, passaria a ser de R$ 1.155 por pessoa ano, o que representaria uma inflação saúde de mais de 15%.
Neste exemplo, comparar o reajuste do plano de saúde aos índices gerais de inflação seria comparar apenas com a parcela de variação de preço dos serviços (5%) e não com a variação geral de preço e demanda por pessoa (15%).
Aliás, é exatamente a combinação dessas variáveis de demanda e custo que determinam majoritariamente o preço do plano de saúde – entenda mais no artigo
Preço do plano de saúde: por que meu plano custa mais?
Nossos estudos sobre Variação do Custo Médico Hospitalar
Para esclarecer tecnicamente esses conceitos e apresentar o índice global de inflação saúde da carteira representada pela nossa base de dados, fazemos, todo ano, o estudo técnico de decomposição da evolução dos custos de saúde de um ano em relação ao outro.
Já adiantando, o estudo desse ano será divulgado nos próximos dias e apresentará resultados interessantes, indicando que a inflação médica de 2019 em relação a 2018 foi menor que a variação 2018/2017. Já destaco de antemão, também, que, em 2018, observamos um crescimento na demanda e menor aumento no preço dos serviços. Já em 2019, houve aumento quase similar nesses dois pontos.
Ressalto que os resultados de inflação saúde (também apelidado pelo mercado como VCMH - Variação dos Custos Médicos Hospitalares) apresenta enorme variabilidade quando analisado de forma individual em cada operadora, uma vez que esse comportamento dependerá de fatores diversos, como:
Serviço de cálculo do VCMH
A Prospera oferece o serviço de cálculo do VCMH da operadora e decomposição desse índice, conforme metodologia do estudo citado anteriormente.
Embora o índice de inflação médica medido pela operadora não seja um índice oficial, pode ser usado como uma referência para avaliação do desempenho dos contratos. Inclusive, a Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS já indica esse índice – que ela chama de variação de custos médicos –, como uma referência para avaliar a dispersão dos percentuais de reajuste aplicados pelas operadoras sobre seus contratos coletivos e utiliza esse conceito como parte do reajuste autorizado para planos individuais – saiba mais sobre no artigo Reajuste - Causa e Efeito.
Italoema Sanglard
Gestora Atuarial
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Data da notícia:
30/06/2020