O impacto da pandemia Covid-19 na compra de medicamentos psiquiátricos

A pandemia da COVID-19 impactou a sociedade de diversas maneiras. Desde o início do rápido alastramento da doença no Brasil, vem se discutindo seu impacto em outras condições preexistentes nos acometidos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, as doenças preexistentes como, diabetes, pressão alta e câncer são agravantes para os contaminados pelo vírus. Além disso, essas condições de saúde não só nos trouxeram problemas, como também nos levaram a restrições necessárias. Exemplo disso foi a mudança do comportamento diário, adoção do trabalho remoto em muitas áreas, distanciamento social, e o drama do aumento do número de mortes no país em razão do novo coronavírus.

Além das condições preexistentes, diversos estudos abordam os impactos da Covid-19 na saúde mental da população. A mudança de comportamento com a pandemia foi inevitável e, com ela, o distanciamento social, privação de eventos sociais e culturais, afastamento das atividades presenciais na escola, faculdade e trabalho, mudaram nossas emoções e a forma como vivemos em sociedade.

Nesse contexto, avaliamos a evolução da compra de medicamentos psiquiátricos de 2018 até 2020 com a intenção de detectar alterações relevantes no consumo desses medicamentos durante a pandemia. Foram utilizados dados de compras de todos os medicamentos da base da Prospera|Funcional Health Tech, composta por empresas que oferecem subsídio em compra de medicamentos para seus funcionários, para avaliar o comportamento da frequência anual de compra per capita dos medicamentos em geral em comparação com os medicamentos específicos para o tratamento de doenças psiquiátricas.

Estudo: impacto da pandemia na compra de medicamentos psiquiátricos

A base possui a quantidade de medicamentos comprados mensalmente de janeiro de 2018 até dezembro de 2020. Foram listados 335 medicamentos, dentre eles 67 medicamentos (20%) foram relacionados a tratamentos de doenças psiquiátricas como depressão, distúrbios e diversos transtornos mentais. Para o cálculo da proporção e variação de frequência per capita, foram considerados 18 milhões de usuários ativos no período de análise do estudo.

Conforme gráfico abaixo, a taxa média de compra de embalagens de medicamentos em geral, ou seja, incluindo medicamentos psiquiátricos, é de 50 embalagens por ano a cada 100 usuários ativos em 2018, 53,4 em 2019 e 52,9 em 2020.

Podemos concluir que houve na taxa de compras de 2019 em relação a 2018 e uma leve redução no ano de 2020 em comparação a 2019. Já nos medicamentos relacionados a doenças psiquiátricas, o aumento foi mais relevante de 2019 para 2018. Entretanto, em 2020, até então no ápice da pandemia no Brasil e no mundo, observamos uma leve redução na taxa de compra em relação a 2019.

O aumento na proporção no ano de 2019 foi de 6,8% enquanto nos medicamentos psiquiátricos o aumento de 19,3% foi muito mais expressivo. Em 2020, no início da pandemia, houve redução na proporção de todos os medicamentos (-0,9%) e também nos psiquiátricos (-3,3%).

A redução durante o início da pandemia pode ser ocasionada por diversos fatores, tais como redução da circulação das pessoas, melhora da saúde mental com conexões digitais com família, ou mesmo a drástica redução no número de consultas anuais realizadas em média por cada beneficiário de plano de saúde. Em 2020, que de acordo com o Anuário de Custos de Planos de Saúde de 2020, desenvolvido pela Prospera, passou de 6,5 para 4,8 (redução de 26%) quando comparamos 2019 com 2020 respectivamente. Importante lembrar que a maioria desses medicamentos estudados requer prescrição médica.

Outro ponto a ser destacado na análise acima é a questão do efeito teto, que de acordo com o estudo Prevalence and risk factors of psychiatric symptoms and diagnoses before and during the COVID-19 pandemic: findings the ELSA-Brasil COVID-19 mental health cohort o “efeito teto” indica que os índices de transtornos psiquiátricos já se encontravam em patamares tão altos que não havia perspectiva de aumento. O estudo foi resultado de uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) que acompanhou e avaliou participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil) desde 2008 até 2020.

Por fim, diversos fatores podem agravar ou atenuar as condições de saúde mental da população durante o difícil período em que todos estamos vivendo. Alguns estudos apontam os impactos da mudança do comportamento da sociedade em relação as doenças psiquiátricas, outros, assim como o da Prospera, não indicam mudança significativa nos dados analisados. O período é de incerteza e temos que aprender a conviver com o novo normal e também com o legado que a pandemia deixará.

Bruno Cabral de Souza
Gestão Atuarial

 


Data da notícia: 10/08/2021

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