Na área da saúde o que não é medido não pode ser gerenciado

Sistemas de medida e a área da saúde
 
Quadriple aim, ou objetivo quadruplo, na área da saúde
Tem sido recorrente o tema de remuneração baseada em valor. E quando se fala em valor na área da saúde, certamente já ouvimos falar do triple aim, ou triplo objetivo. Em tempos mais atuais, fala-se em quadriple aim, ou objetivo quadruplo, que aborda os aspectos de:
 
Melhorar a saúde da população
Melhorar a experiência para o paciente
Reduzir o custo percapita dos cuidados de saúde
Melhorar a experiência dos profissionais de saúde (reduzir burnout seria um objetivo mínimo neste cenário)
 
As iniciativas do triple e quadriple aim nasceram do Institute for Healthcare Improvement - IHI, que tem como missão melhorar a saúde e os cuidados de saúde no mundo.
 
O fato é que a saúde e os sistemas de medição têm uma longa jornada e diferentes momentos da história, mas não é ainda sobre isto que gostaria de falar neste artigo. Aqui quero abordar alguns princípios sobre ser data driven. Uma habilidade que tem sido cada dia mais demandada dos profissionais, inclusive da área da saúde, partindo do princípio de que o que não é medido não pode ser gerenciado.
 
O uso de indicadores é etapa fundamental para medir se estamos chagando aos resultados desejados. Mas ainda assim um desafio a ser enfrentado com disciplina e clareza sobre quais dados são necessários coletar e analisar. As métricas são os direcionadores que irão indicar se as mudanças estão trazendo os resultados desejados.
 
Medidas de desfecho
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define indicadores de desfecho como sendo aqueles que alteram a saúde de um indivíduo ou de um grupo de pessoas e que possam ser atribuídos a uma intervenção ou série de intervenções.
 
Medidas de desfecho são o foco das mudanças perseguidas pelas organizações, tais como mortalidade, readmissão, experiência do paciente, etc. Adotar indicadores e passar a medir o que importa no cuidado ao paciente auxilia a revelar as áreas nas quais intervenções podem melhorar o atendimento. Assim como as variações nos desfechos que diferentes cuidados podem gerar.
 
Indicadores fornecem evidências sobre as intervenções que funcionam melhor para certos tipos de pacientes conforme suas circunstâncias, além de permitir comparar a eficácia de diferentes tratamentos ou procedimentos. 
 
A CMS, que corresponde ao responsável pela gestão da cobertura de saúde pública garantida pelos Estados Unidos, agrupou as medidas de desfecho em sete categorias e seu respectivo peso:
 
1. Mortalidade (22%): medida essencial sob o aspecto de resultado populacional.
 
2. Segurança do Paciente (22%): condições adquiridas durante a internação hospitalar e acompanhamento de lesões de pele. O uso de inteligência analítica e acesso a dados amplos de mercado são fundamentais para estabelecer os melhores parâmetros.
 
3. Readmissão Hospitalar (22%): a reinternação é uma medida importante de desfecho clínico, novamente o uso de dados e análises avançadas para determinar as melhores práticas e assertividade na pontualidade dos tratamentos e alta hospitalar tem sido recurso de apoio com alta relevância.
 
4. Experiência do paciente (22%): os conhecidos PORMs, que medem o cuidado de saúde sob a perspectiva do paciente têm gerado um retorno importante sobre a sua satisfação.
 
5. Efetividade do cuidado (4%): avalia dois aspectos: (1) aderência às diretrizes de boas práticas da instituição e (2) resultados obtidos como redução em taxa de readmissão, por exemplo. Vale ressaltar que uma baixa adesão às diretrizes clínicas também pode indicar que estas estão desatualizadas e merecem revisão.
 
6. Pontualidade no atendimento (4%): tem como propósito medir o acesso ao cuidado. Geralmente uma sala de emergência sobrecarregada de pacientes é associada com um aumento da mortalidade de pacientes, aumento do tempo de permanência e do custo por paciente. Medir o tempo de espera do paciente e indicadores de evasão pode auxiliar a encontrar oportunidades de melhoria na gestão de processos. O uso de metodologia Lean nas emergências tem tido importante sucesso neste quesito.
 
7. Uso eficiente dos recursos clínicos (4%): o uso de exames de imagem tem um papel central no sistema de saúde, podendo contribuir para o resultado do paciente trazendo maior custo efetividade quando utilizado de forma assertiva. Em um estudo de caso notou-se em determinada instituição a indicação de Raio-x para 65% dos pacientes admitidos com Asma, após revisão com base em analytics e dados de mercado foi identificado que apenas 5% dos casos tinham indicação para a realização do exame, o que permitiu reduzir o tempo de permanência em 11 horas.
 
Atingir resultados e desfechos positivos é importante para o paciente e para a organização de saúde. Contudo, para que possa ser replicável, tão importante quanto os resultados são os processos que garantem o desfecho. 
 
Para o sucesso no desafio de implementação de critérios e medidas de resultados em saúde, é fundamental ter transparência com relação aos dados, que irá permitir a comparabilidade de processos (antes/depois) e também entre organizações de saúde; cuidado integrado, que tenha como alvo olhar para a pessoa como um todo, oferecendo apoio para a transição de uma etapa de cuidado para a seguinte; integração de dados, que geralmente são tratados em distintos sistemas e nem sempre se unem para gerar uma análise mais ampla, precisam se conectar entre laboratório, médico, centro cirúrgico, etc, de forma ágil.
 
Artigo inspirado em no conteúdo:
 
 
Raquel Marimon e Italoema Sanglard


Data da notícia: 22/06/2021

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