Modelos de Saúde e Atenção Primária

Novos modelos de atenção à saúde tem sido uma discussão recorrente em eventos do setor.

Em palestra de Drauzio Varella no Congresso Abramge de 2019 assistimos uma abordagem interessante. Eterno professor de incrível sabedoria nos mostrou como a lógica na saúde, seja ela pública ou privada, está estruturada de maneira que o responsável pelo cuidado fica blindado das questões econômicas.

Esse modelo é a raiz do sistema, é baseado no princípio de que o cuidador não deve se ocupar com o “caixa”. Mas, “ao persistir os sintomas” teremos que rever esse desenho estrutural. Ao não relacionarmos essas pontas, como temos feito nas últimas décadas, o recurso que é finito torna-se escasso e nos leva a uma assistência descoordenada e desencontrada da vida prática e das necessidades das pessoas que o próprio sistema se dedica a cuidar.

Saúde gratuita para todos, sem discriminar, esse é o modelo público brasileiro, reconhecido no mundo todo como de excelência:

  • Melhor programa de vacinação no mundo;
  • Programa de AIDS que revolucionou o tratamento no mundo;
  • Programa de transplante reconhecido internacionalmente;

- Essas são as ilhas de excelência do SUS

Contudo, para 47 milhões de brasileiros que estão hoje no sistema privado de saúde, se fossem para o sistema público tornariam o sistema universal brasileiro ainda menos acessível para o restante da população!

Em razão do poder econômico e influência desses brasileiros, certamente eles teriam acesso privilegiado, atendimento prioritário. 

- Definitivamente, não é esse o caminho.

Em uma população com altíssimo percentual de obesos, cerca de um terço diabético, ou hipertenso, o que falta é a atenção primária (ou básica como preferem os sanitaristas)

O Brasil tem um dos melhores programas de atenção básica de saúde: o Programa da saúde da família, conforme definido pela OMS Organização Mundial da Saúde.

Para fazer uma boa assistência à saúde, precisa conhecer as pessoas que se pretende cuidar, criar um vínculo com o paciente além de oferecer canais de acesso adequados para cada necessidade de atenção à saúde. Se você não conhece as pessoas, não tem os recursos e processos desenhados para conhecê-las a fundo, fica muito difícil cuidar delas.

É atenção primária que se resolve tudo isso!

Mas hoje vivemos o seguinte cenário:

  • O cidadão acha que o SUS é ruim e compra um plano de saúde;
  • O médico acha que é mal pago;
  • Operadora tem problema com o médico que pede exame que ela não concorda e com o beneficiário que judicializa;
  • E todos estão infelizes com o modelo atual!

 

Se o sistema privado de saúde tem múltiplas portas, no SUS temos a imagem negativa de falta de disponibilidade, em especial quanto ao pronto atendimento; por outro lado o sistema privado é caro e ineficiente. Qualquer sintoma que o paciente sente deveria passar pelo crivo da atenção básica antes de chegar em centros de excelência médica, sob o ponto de vista da atenção à saúde, esse é o melhor formato.

Atualmente as Operadoras de planos tem discutido sobre novos modelos assistenciais e estão se estruturando para passar a atender com foco na atenção primária, um aspecto até então considerado como de menor importância nos modelos que são comumente ofertados. Os novos planos atendem a lógica de atenção centrada no cliente, proporcionando uma melhor experiência com os serviços de saúde. Em alguns desses modelos, antes do cliente deixar a unidade de atenção primária todos seus exames ou próximos agendamentos já são feitos por uma equipe multiprofissional. Outros canais de acesso também são disponibilizados, como o whatsapp, app de orientação, chat, celular e telefone de primeira linha de atenção. 

Mas afinal o que o cliente ganha com isso?

Ele ganha mais acesso. Diferente do que muitos pensam por aí, ter acesso não é ter um livro de credenciados que seja o maior possível. Ter quantidade de recursos não significa necessariamente ter os recursos que precisamos no momento que precisamos.

Ter a nossa disposição o acesso imediato aos profissionais que podem nos orientar de forma adequada antes de sairmos correndo para o pronto socorro é o que faz mais sentido, e se o contato com esses profissionais de saúde for não apenas disponível, mas para falar com alguém que conhece meu histórico pessoal e pode entender quando estou aflito ou simplesmente inseguro. Isso faz parte de uma jornada mais positiva para o cliente final, estamos falando experiência do paciente mesmo.

Veja como a experiência da atenção primária bem feita é diferente do que conhecemos como saúde suplementar nesse depoimento de quem experimentou. Se sua empresa está pensando em reavaliar o modelo de atenção à saúde, vamos deixar claro: não estamos falando de plano com “porta de entrada”, o que foi muito comum nos Estados Unidos na década de 90. Estamos falando de cuidado coordenado, atenção voltada para paciente e acesso. O produto deve priorizar o vínculo do paciente com o médico de referência, pois é através deste relacionamento que o modelo de saúde será eficiente e entregará mais saúde para o paciente.




Raquel Marimon
Presidente 

 



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Data da notícia: 03/09/2019

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