O conceito de Atenção Primária nasceu com Lorde Dawson, que foi médico da coroa inglesa e publicou em 1920 um relatório enquanto ministro da saúde, detalhando um plano de atenção a saúde para a população inglesa em que estruturava o atendimento em fase primária, secundária e terciária, definindo regiões de atendimento por centro médico, que serviu de base para a criação do NHS – National Health System, o SUS britânico em 1948.
Trinta anos após o início do NHS, em Alma-Ata, na República do Cazaquistão, em encontro promovido pela Organização Mundial de Saúde, foi assinado por 134 países uma declaração que propõe a meta saúde para todos até o ano 2000. A ênfase foi dada na atenção primária como meio para atingir este objetivo. Nos conceitos apresentados por Dawson a atenção a saúde ficaria organizada por um conjunto de serviços de atenção primaria, um centro referencia em atenção secundária alguns pontos estratégicos com a presença de serviços suplementares e uma grande região abrangida por um único hospital.
Por um lado o agente regulador se empenha em criar estímulos como o Programa de Certificação em Boas Práticas de Atenção a Saúde, mas os resultados desse estímulo somente poderá ser avaliado dentro de um ou dois anos, pois depende de estrutura de certificação. Na outra ponta a resistência cultural, tanto do beneficiário no setor privado quanto dos profissionais de saúde ainda é a principal barreira para a discussão de um novo modelo de atenção.
Por demanda das empresas contratantes de planos por um produto com preço mais enxuto, algumas operadoras iniciaram o movimento no sentido de oferecer atenção primária de qualidade e bem estruturada, com excelentes resultados no curto prazo, comprovando que o estímulo econômico é o motor propulsor das mudanças culturais. Um modelo de sucesso deve seguir minimamente os preceitos da APS abaixo elencados:
Veja, APS não deve ser confundido com programa dedicado a portadores de doenças crônicas, programa para idoso, ou prevenção de saúde, pois contempla atenção à saúde coordenada e abrangente, de qualidade, para toda uma população.
Levar esses conceitos adiante pode ser grande diferencial de sobrevivência para as operadoras de planos de saúde. Não há dúvidas de que esse mercado é extremamente competitivo e que os empregadores, responsáveis por 66% dos beneficiários que estão no sistema privado já não estão de acordo com os reajustes por sinistralidade aplicados em seus contratos. Afinal seu produto final não tem reajustes equivalentes, o que dificulta a manutenção do benefício no modelo atual.
Na linha da atenção primária, APS, a gestão clínica passa a ter um papel muito mais relevante:
O desafio maior está no direcionamento para serviços de atenção primária, por parte da operadora de planos de saúde e construir e conquistar o engajamento por parte do prestador de serviço. Para vencer esse desafio, do lado das operadoras, uma opção que tem se demonstrado viável é a criação de produtos com uso hierarquizado de serviços, criando assim o direcionamento para o serviço da atenção primária. Nesse cenário os prestadores tem o desafio de encantar o paciente para que a impressão seja “estão cuidando de mim” e não “agora meu plano é de acesso restrito”. Em países com cultura voltada para APS quando uma pessoa muda de cidade, além de nova residência, escola para os filhos, localizar e escolher seu médico de referência também faz parte do processo de mudança. Vamos caminhando nesse sentido no Brasil também, construindo um novo movimento de mais transparência e comprometimento com a atenção a saúde que entregamos.
Raquel Marimon
Presidente
Data da notícia:
07/05/2019