Mais tecnologia em saúde ou mais acesso em saúde?

Mais tecnologia em saúde ou mais acesso em saúde?

Os debates do Fórum ASAP que aconteceu nesta última semana de agosto foram enriquecedores para a construção de um novo modelo de saúde e inspirado em algumas ideias chaves apresento um debate sobre mais acesso ou mais tecnologia no artigo a seguir:

Informação é algo extremamente complexo. Neste artigo vou mostrar porque não basta ter dados, não basta ter painéis nas paredes da empresa e também não basta

Medir eficiência não é possível quando o foco está em medir processos!

Quando olhamos para o ecossistema de saúde, acesso é um pré requisito para o cuidado. Mas se o cuidado for ruim o acesso já nem é tão relevante. Por isso quando olhamos para o pilar qualidade, que é o que garante um cuidado de valor se torna necessário medir desfecho, ou seja: resultado de saúde. Infelizmente este é o tipo de informação que ainda não temos com abundância.

Não adianta ter regras, normas, leis, se não tivermos a competência técnica para seguir estas diretrizes. Por isso a medição de desfechos precisa iniciar de forma simples, viável de ser medido e comparado. O desafio de estabelecer um parâmetro pode parecer muito desafiador, mas sempre pode-se iniciar comparando o seu desempenho de hoje com o desempenho de ontem. Medir e acompanhar por meio de indicadores é a forma de garantir que os objetivos iniciais estão sendo perseguidos e se está no caminho correto.

Na discussão atual entre atenção primária versus a alta e média complexidade não há vitoriosos. Esta discussão é sem sentido, pois se tivermos por meio da atenção primária o acesso que as pessoas precisam em termos de atenção à saúde, a demanda para a média e alta complexidade vai aumentar naturalmente. O que vai acontecer no final é que a população vai ter um melhor cuidado, uma atenção de saúde assertiva. Por outro lado, a intervenção quando ocorre o diagnóstico precoce traz um maior controle do gasto com procedimentos de alta monta, evitando tratamentos que podem ser mitigados pela gestão da saúde.

Agora vejamos a discussão da inclusão tecnológica. Muitas vezes considera apenas o valor da inovação, mas não se observa a capacidade de pagamento das pessoas e organizações envolvidas. Quando fazemos isto, estamos determinando uma redução do acesso. Pois, quanto mais oneroso forem os serviços de saúde, menos pessoas poderão ter acesso a eles.

 

Como podemos levar os avanços tecnológicos para um maior número de pessoas?

A dificuldade de traduzir estes ganhos para uma população inteira é o desafio da sustentabilidade do modelo existente.

Fazer gestão é mapear o perfil de necessidades, estudar sobre os melhores recursos e tecnologias disponíveis e alocar a melhor solução dado o recurso disponível. Hoje, no sistema de saúde, esta força motriz vem da indústria farmacêutica, principalmente pela incorporação de novas tecnologias que no momento atual se direciona mais para soluções para doenças raras e ultra raras. Quando o foco é inovar não há quem faça melhor!

Antigamente o médico tinha que saber apalpar o abdômen para fazer um diagnóstico, hoje existem diversas soluções de tecnologia que são capazes de mostrar muito mais do que este exame clínico, e assim evoluímos no ecossistema da saúde, incorporando mais e mais tecnologia. Agora o modelo de capacitação do profissional e o modelo de atenção e jornada do paciente não mudou em nada, não se atualizou. Acompanhar estas inovações é um dos desafios na busca pela sustentabilidade da saúde.

Sem gestão apenas vamos sendo levados pelo sistema instalado, sem qualquer alternativa de redefinir seu destino.

Enfim, é por meio de dados transformados em informação que podemos estudar e propor melhores caminhos para alcançar uma oferta de assistência a saúde integral, coordenada e eficiente para o paciente. Nesta jornada, observar a capacidade de pagamento dos agentes financiadores torna-se o limite do que se pode fazer e cabe ao gestor público, ter a sabedoria de analisar o cenário e decidir o que deve ou não ser coberto pelo SUS e pelos sistema privado.

Informação não é o objetivo final nesta jornada, mas sim a ferramenta para fazer o que é certo no tempo certo.

 

 

Raquel Marimom
Diretora Executiva

 


Data da notícia: 07/09/2021

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