Inflação Médica 2016

Download em PDF


Inflação Médica 2016 

Uma análise atuarial da evolução dos custos da saúde suplementar

Muito se discute no momento sobre o crescimento acelerado dos custos em saúde, especialmente no sistema privado. Em contrapartida, todos os atores envolvidos nesta cadeia (operadoras de planos de saúde, prestadores de serviços e fornecedores de materiais e medicamentos) alegam que seus recursos estão cada vez mais escassos.

Soma-se a este cenário o fato de que os recursos públicos destinados à saúde da população também estão limitados, e frequentemente as decisões judiciais atribuem ao sistema despesas com assistência não prevista contratualmente ou mesmo no rol de coberturas previstas no SUS, portanto não contempladas nos preços dos planos de saúde ou orçamento do Sistema Público.

Na busca por tentar equalizar receita x custos, por mais que as operadoras absorvam parte do aumento destes custos compensando com eficiência na gestão e adoção de práticas de gestão da saúde, é inevitável que este comportamento afete também o bolso dos clientes (empresas, associações ou pessoa física).

A regulamentação da ANS prevê que as operadoras podem aplicar, anualmente, o reajuste financeiro, para cobrir a inflação, e o reajuste técnico, quando a utilização for superior ao previsto em contrato. Por outro lado, os clientes também já encontram dificuldades para absorver estes reajustes.

Os órgãos de defesa do consumidor acusam a ANS por permitir um índice que consideram abusivo, enquanto as operadoras acreditam que este índice não “chega perto” da real necessidade de adequação dos seus contratos. Simultaneamente, os prestadores de serviços alegam que as operadoras não reajustam os valores de remuneração dos serviços na medida necessária.

Com o intuito de reduzirmos a enorme assimetria de conhecimento sobre a real situação das Operadoras e seus custos de atenção a saúde, apresentamos as variáveis relevantes na análise da evolução dos CUSTOS DA SAÚDE em estudo desenvolvido pela Prospera Consultoria.



Logo, os CUSTOS DE SAÚDE são determinados, pelo volume de utilização dos serviços e pelo valor de remuneração aos prestadores quando realizado cada serviço.

O comportamento de utilização dos serviços pelos beneficiários possui um caráter individual, mas pode ser influenciada por mecanismos de regulação adotados pela Operadora, como fatores moderadores (coparticipação e franquia), porta de entrada e programas de promoção da saúde, por exemplo. Estudos indicam, também, que quanto maior a rede oferecida aos clientes (aumento de oferta), maior tende a ser a utilização (aumento de demanda). Além disso, destaca-se o fator transição demográfica, que representa o aumento da proporção de idosos e mudança do perfil epidemiológico, com maior prevalência de doenças crônicas, cujos tratamentos são mais onerosos e de maior duração, e a ampliação bienal do rol de coberturas mínimas previsto nos planos de saúde.

 Já o valor da remuneração por cada serviço é negociado entre Operadora e prestador, existindo fatores externos que podem inviabilizar a prática de valores justos como, por exemplo, oligopólio de hospitais e laboratórios, entre outros. Além disso, há o fator desenvolvimento tecnológico que substitui procedimentos antigos por novos procedimentos, mais caros, e nem sempre com melhores resultados de saúde, seja no aspecto do diagnóstico ou tratamento.

O presente estudo é focado na análise das despesas assistenciais das Operadoras, e o objetivo é demonstrar qual a contribuição do aumento da demanda por serviços na evolução dos CUSTOS DE SAÚDE e qual a contribuição do aumento dos preços dos serviços de saúde oferecidos pelos prestadores e fornecedores que compõem o sistema privado de saúde suplementar. Para isto analisamos isoladamente os efeitos das variáveis frequência de utilização e valor médio.

O estudo técnico a seguir foi desenvolvido a partir de uma amostra da base de dados de Operadoras clientes desta consultoria, contemplando dois anos civis, 2015 e 2016, com aproximadamente 1 milhão de beneficiários.

Segregamos as despesas assistenciais entre despesas ambulatoriais e hospitalares. As despesas ambulatoriais, que representam 61% do total, cresceram 14%, enquanto as despesas hospitalares, que representam 39% do total, cresceram mais de 24%.



Em cada um destes grupos (ambulatorial e hospitalar), dividimos as despesas entre: consultas médicas, serviços auxiliares de diagnóstico e terapias – SADT de baixa e alta complexidade, atendimentos ambulatoriais, materiais e medicamentos, taxas, diárias (no caso de despesas hospitalares) e outros itens que não se enquadram nos grupos formados.

No gráfico a seguir apresentamos o peso de cada um destes itens no CUSTO DE SAÚDE das operadoras:

Analisamos isoladamente a variação da frequência de utilização e do valor médio de cada grupo de serviços:

Conforme apresentamos no gráfico 03 a seguir, os materiais e medicamentos representam 43% das despesas das operadoras em internações, seguidos das diárias, com peso de 19,76%. Fazemos aqui uma breve análise comparativa sobre os dados publicados pela ANAHP no relatório “Custos da Saúde – Fatos e Interpretações”, disponibilizado em nosso site (https://www.prosperabr.com/sms/files/legislacao/custos-da-saude.pdf) em outubro/2017, em que evidencia que maior parte dos custos de uma entidade hospitalar são as despesas fixas, tais como: pessoal, custos de manutenção operacional (luz, água, depreciação, manutenção, logística, etc.), que representa 71%, sendo apenas 29% destas despesas relativas a insumos específicos por paciente internado. Contudo, a conta apresentada para a operadora de plano de saúde é feita em outra estrutura, em que 43% corresponde a material e medicamento, evidenciando que os valores negociados entre operadoras e hospitais não estão alinhados com a necessidade e incentivam o aumento de volume.

Quanto ao volume demandado na amostra de dados analisados, observamos que houve aumento da demanda de todos os itens de internações do período 2015 para o período 2016, mas os valores médios que mais cresceram foram os dos materiais e medicamentos e das diárias, que juntos representam 62,80% das despesas das operadoras com internações.

Conforme observado na imagem anterior, o valor de materiais e medicamentos de uso em internações hospitalares apresentaram 18,75% de aumento no período 2016 com relação ao ano 2015.

Neste mesmo período, a CMED – Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos aprovou o reajuste máximo de 12,5%. Ocorre que a variação do custo médio observado pelas operadoras não se refere exatamente ao mesmo medicamento, pois a cada ano as novas diretrizes de uso, bem como novos medicamentos se apresentam com novos custos para o tratamento durante uma internação hospitalar. Assim, a variação observada no custo médio com materiais e medicamentos por paciente internado nos dados analisados dos sinistros das operadoras reflete mais precisamente a variação de custos ocorrida para o plano de saúde.



 

A partir destes dados estimamos as despesas das operadoras analisadas considerando que os valores médios dos serviços prestados às Operadoras tivessem se mantido e apenas a demanda dos serviços em 2016 tivesse variado. Os resultados indicam que as despesas ambulatoriais cresceram 9,67% enquanto as despesas hospitalares cresceram 10,42%. Considerando o peso de cada grupo de despesas assistenciais, o aumento global seria de 10,37%, conforme apresentado na imagem anterior.

Por fim, estimamos qual teria sido a variação do custo dos procedimentos, caso a demanda em 2016 fosse exatamente a mesma de 2015. Os resultados indicam que as despesas ambulatoriais cresceram 4,3% enquanto as despesas hospitalares cresceram 14,35%.



 

Assim, ponderando a representatividade de cada grupo de despesas assistenciais, concluímos que o custo da atenção à saúde por beneficiário aumentou em média 8,40% em razão da variação do custo dos procedimentos. Na composição dos itens desta cesta, os de maior representatividade foram “materiais e medicamentos” e “diárias”, cujos preços aumentaram 18,75% e 13,65% respectivamente, sem o efeito de variação de demanda.

A variação da despesa assistencial de um plano de saúde, ou CUSTO DE SAÚDE, cresceu 18,77% do ano 2015 para o ano 2016, o mercado costuma nominar este efeito de inflação médica, contudo, neste estudo destacamos que esta variação é composta pelas seguintes partes:



Download em PDF

Acesse por Mobile


Data da notícia: 11/10/2017

TOP